Megatendências são grandes forças transformadoras que moldam a sociedade e a economia. No caso do setor educacional privado, vivenciamos um momento de rápidas e profundas mudanças, algo não observado desde o pós-guerra, quando as mulheres retornaram ao mercado de trabalho e a queda na qualidade do ensino público impulsionaram o crescimento e a diversificação das escolas privadas. As principais mudanças que impactaram o mercado educacional são:
- A entrada dos grandes investidores no mercado educacional já ocorre há 15 anos e se dá em ondas com impactos significativos no mercado.
O mercado premium tende a afetar um público bem restrito de escolas, como as internacionais. Por outro lado, as low cost tendem a influenciar os mercados regionais, principalmente nos dois primeiros anos, pelo seu custo-benefício e a nova onda de franquias pelo seu visual e organização.
- Mundo tecnológico – A pandemia impulsionou uma rápida adaptação das escolas ao ambiente virtual, onde a tecnologia desempenhou um papel essencial na transição para o ensino remoto. E a evolução não para por aí. As mudanças causadas pelas inteligências artificiais estão apenas no começo e irão impactar diretamente o modo de fazer educação.
- Sustentabilidade – A educação socioambiental ganhou destaque devido à necessidade intrínseca de melhorar a qualidade de vida das pessoas e o meio ambiente. Atualmente, vivenciamos os impactos das mudanças climáticas em nosso dia a dia, com as enchentes, o calor fora de época e o aumento da epidemia de dengue, ao contrário do que ocorria há tempos atrás, quando os problemas pareciam distantes e não nos afetavam diretamente, como proteger as tartarugas dos resíduos plásticos, lidar com o degelo polar e preservar espécies ameaçadas, como os pandas e os micos-leões-dourados.
- Escolacentrismo – Atualmente, é cada vez mais comum encontrar indivíduos enfrentando desafios emocionais, como depressão e ansiedade, e essa realidade não poupa sequer as crianças.
Diante desse panorama, é imperativo que as escolas assumam seu papel central na formação integral e utilize a educação como uma ferramenta para instruir e influenciar as pessoas nas questões relacionadas à saúde física e mental.
- Escolas público-privadas na educação infantil – A entrada das escolas público-privadas na educação infantil afetou o mercado educacional. Mais estruturadas, essas escolas competem com as que atuam com um público de menor poder aquisitivo.
A tendência do mercado é reduzir o número de escolas particulares com esse perfil. Para amenizar o impacto, as escolas precisam repensar o seu posicionamento e buscar o público de maior poder aquisitivo, mesmo em regiões mais módicas.
- Redução de alunos na educação infantil – Também observamos a mesma tendência de redução no número de alunos da educação infantil em escolas de porte maior que oferecem todos os segmentos educacionais.
Esse fenômeno representa uma inversão em relação ao que era observado nos anos anteriores. Escolas maiores perdem alunos para instituições menores, as quais se multiplicaram e reduziram suas mensalidades devido à intensificação da concorrência de preços, motivada pela diminuição de alunos durante a pandemia. Além disso, essas escolas de menor porte também têm enfrentado uma redução no número de alunos nas regiões onde foram abertas novas unidades público-privadas.
- Novas parcerias público-privadas para escolas de ensino fundamental II e médio – Em 2022, o Estado do Paraná lançou um projeto-piloto que entregou a administração de escolas à iniciativa privada. Esse projeto foi implementado durante o mandato de Renato Feder, atual secretário da Educação de São Paulo, quando ele estava à frente da pasta paranaense.
São Paulo e outros estados têm se mobilizado para implementar empreendimentos semelhantes. O projeto do governo do Estado de São Paulo prevê a concessão de 25 anos para a iniciativa privada, provavelmente conduzida pelos grandes investidores que têm adquirido escolas particulares.
Essa mudança no mercado afetará diretamente as escolas particulares que oferecem ensino fundamental II e médio em regiões com menor poder aquisitivo.
- O novo ensino médio será a nova universidade – Com a mudança de mercado advinda dos avanços tecnológicos, as empresas buscam cada vez mais pessoas jovens, atualizadas e preparadas para as novas demandas dos setores de inovação.
Segundo Danilo Costa, ex-proprietário de uma escola player e fundador da Educbank, há uma tendência global das empresas de tecnologia, inovação e startups em buscar pessoas cada vez mais jovens para ocupar postos de trabalho.
Essa demanda propicia a necessidade do ensino técnico com ênfase em tecnologia, como a de programação, e empreendedorismo e gestão, tendência que se expande para o Brasil. Após o ensino bilíngue, socioemocional e maker, é possível que a próxima tendência seja a educação socioambiental e as disciplinas relacionadas à tecnologia e formação profissional.
- Sazonalidade atrasada – Um movimento que persiste nas últimas duas sazonalidades é o atraso na efetivação das rematrículas pelos alunos. Cada vez mais, os pais demoram para realizar as renovações, muitas são realizadas nos meses de março e abril, inclusive para alunos do ensino fundamental 2 e médio.
Esse fenômeno pode estar relacionado ao aumento das dúvidas das famílias diante de escolas muito semelhantes, à falta de algo diferencial, ao aumento da insegurança relacionada ao inconsciente coletivo devido ao desequilíbrio emocional já mencionado e ao conhecimento dos pais de que, se esperarem, poderão conseguir descontos maiores em escolas que não alcançaram suas metas.
- Aumento da disparidade de desempenho entre escolas similares – Um fenômeno que as consultoras da Rabbit observaram em suas análises comparativas foi a grande discrepância no crescimento ou declínio das escolas, mesmo aquelas localizadas no mesmo bairro, com o mesmo público-alvo. Também foram observadas grandes diferenças entre escolas confessionais pertencentes à mesma congregação.
Isso ocorreu por conta do aumento da oferta no mercado. Em um ambiente altamente competitivo, onde a concorrência é intensa, todos os detalhes fazem diferença, já que os pais têm mais opções à disposição.
Christian Coelho
CEO Grupo Rabbit