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As qualificações de um professor para o contexto bilíngue

O aumento do número de escolas e programas bilíngues no país vem gerando uma alta demanda por profissionais para atuarem nesse contexto. O que parece ainda não estar claro para muitos é: Quem é esse profissional? Que formação ele precisa ter? O professor de escolas de idiomas pode lecionar em programas bilíngues?

A única exigência do MEC é que o professor que ensina dentro da grade curricular tenha licenciatura na área em que irá ensinar no ensino fundamental II ou médio, ou Pedagogia para lecionar na educação infantil ou fundamental I. Porém, essa formação pode não ser suficiente, já que o nível de inglês exigido em letras normalmente é básico, e o curso geralmente prepara esse profissional para lecionar o que chamamos de inglês instrumental, onde as aulas acontecem em português e o foco é dar algum embasamento linguístico para os alunos, sem focar na proficiência do idioma.  De acordo com Adriele Oliveira, do site Educa Mais Brasil, “o conhecimento da Língua Inglesa é cobrado na maioria dos vestibulares. No entanto, o conteúdo exigido é considerado básico e é visto dentro do programa pedagógico e do plano de estudos de escolas públicas e privadas. Além disso, o conhecimento no idioma não é pré-requisito para o ingresso no curso de Letras – Língua Inglesa.”

Em um contexto bilíngue, o professor precisa ser fluente na língua, já que o foco das aulas passa a ser não somente a decodificação de informações e sim o aprendizado de forma holística e com foco na comunicação. Segundo Rita Ladeia, “A educação bilíngue trata-se em ensinar em línguas o que a escola deve ensinar ao ser humano; e ela precisa estar no dia a dia por meio de um discurso natural, para assim o pensamento ser melhor absorvido”.

É essencial então que o professor tenha um nível linguístico igual ou maior do que o nível B2 de acordo com o CEFR (Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas – Common European Framework of Reference for Languages), que é um padrão internacionalmente reconhecido para descrever a proficiência em um idioma.  De acordo com o CEFR, um falante de inglês com o nível B2 é considerado um falante independente, ou seja, “consegue compreender as ideias principais em textos complexos sobre assuntos concretos e abstratos, incluindo discussões técnicas na sua área de especialidade, bem como se expressar com espontaneidade”, por exemplo. De forma geral, quer dizer que este profissional consegue não apenas ensinar o idioma, mas também participar de treinamentos no segundo idioma, ler livros, etc.

Além disso, é interessante que esse profissional também tenha conhecimento sobre aquisição de linguagem e desenvolvimento de L2 (segunda língua ou língua alvo). O que percebemos que está acontecendo é que existem diversos profissionais que não atendem a todas essas qualificações. De um lado há os professores não licenciados, proficientes na língua, e de outro, professores licenciados que muitas vezes não são proficientes na língua. Como solucionar, então? Qual o papel das escolas nesse contexto, e qual o papel do professor?

A escola precisa investir nos profissionais, ajudá-los a buscar as qualificações necessárias, incentivá-los e apoiá-los. O investimento nos professores que já atuam na escola pode ser uma boa saída, desde que esse profissional esteja disposto a aprender. O professor que está sempre aprendendo algo novo sobre sua área de atuação passa a estar sempre repensando suas práticas pedagógicas e, por consequência, aprimorando-as. Além disso, o profissional que se sente valorizado é consequentemente um profissional mais motivado. Se você é professor, a dica é simples: o professor, licenciado ou não, precisa procurar cursos complementares sobre:

– CLIL (Content and Language Integrated Learning- Ensino Integrado de Conteúdo e Língua), já que em contexto bilíngue ensinará não apenas língua, mas também conteúdo.

– Aquisição de linguagem; e

– Metodologias e abordagens para o ensino de segunda língua.

Além disso, é importante buscar o aprimoramento do nível linguístico e estar disposto a aprender através de novas perspectivas, refletir e repensar a própria prática. Por isso é importante que professores de idiomas estejam em contato constante com cursos, treinamentos ou palestras de forma a se reciclarem.

É importante perceber que para lidar com os alunos do século XXI precisamos do professor do século XXI e para isso é necessário que ele esteja atento ao próprio desenvolvimento profissional. Todas as habilidades que precisam ser trabalhadas nos alunos de hoje precisam ser desenvolvidas também nos professores: a criatividade, a colaboração, a empatia e o pensamento crítico, entre outras. Para a pedagoga e especialista em Gestão Educacional e em Tecnologias Educacionais Danny L Costa, “Hoje, em pleno Século XXI, precisamos de professores formados para a inovação, criação, tecnologias, para a experimentação, enfim, professores que encarem os desafios, que busquem, que sejam eternos pesquisadores, que encontrem soluções para o dia a dia e auxiliem o aluno a encontrar formas de resolver seus próprios problemas cotidianos. Formar professores com aulas expositivas, em salas fechadas, nas salas de aula das universidades e faculdades, ou até mesmo em EAD, é fadar a educação brasileira ao eterno fracasso.”

É primordial que professores e escolas que decidam trabalhar com educação bilíngue acreditem no processo de aquisição da língua e acreditem nos benefícios que a formação de pessoas bilíngues irá trazer para as comunidades envolvidas no processo. Acreditar que a educação bilíngue pode sair do ambiente escolar e mudar um país talvez seja um sonho ou uma ambição grande demais, mas grandes mudanças sempre surgem através de grandes sonhos.

Élida de Sousa
Coordenadora Pedagogica
2Ways Programa Bilíngue

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